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Four Seasons por Nicole Mastrodomenico

ÉPOCAS

A natureza possui ritmos cíclicos, que influenciam o ser humano, que também possui seus próprios ritmos corpóreos. Ritmo é vida. É extremamente benéfico que respeitemos nossos ritmos e que nos conectemos aos ritmos da natureza, com o nascer e o pôr do sol, com as fases da lua, com as estações do ano, apesar de sermos cada vez mais afastados dos mesmos, devido à tecnologia e ao materialismo. Mas se quisermos saúde, especialmente para nossas crianças, precisamos trazer a respiração para nossas vidas, com constantes inspirações e expirações.

Uma forma de nos conectarmos culturalmente a esses ciclos naturais são através da vivência e comemoração das Festas Cristãs. Elas são uma forma de celebração entre nossa experiência terrena e nossa origem celestial. Segundo Rudolf Steiner, este ciclo representa “quatro imaginações cósmicas” que ele relaciona com quatro Arcanjos: a Imaginação de Micael (Primavera), a Imaginação Natalina de Gabriel (Verão), a Imaginação Pascoal de Rafael (Outono) e a Imaginação Joanina de Uriel (Inverno).

Páscoa

A palavra Páscoa vem do hebraico, PESSACH, que significa passagem. Para os judeus, ela se refere a quando Moisés desafiou o faraó no Egito e conduziu seu povo rumo à Terra prometida, libertando-o da escravidão. Para os Cristãos, a Páscoa representa a glória da ressurreição de Cristo após a quarentena e os sete passos da sua paixão e morte ocorridos na Semana Santa. Assim, a Páscoa significa a vitória da vida sobre a morte.

A Páscoa é uma festividade repleta de símbolos profundos. Para nós, no Hemisfério Sul, ela ocorre no outono, no primeiro domingo após a primeira lua cheia, próximo ao equinócio de outono. Antigamente, porém, ela acontecia apenas no Hemisfério Norte, na época da primavera, quando as pessoas se encontravam à mercê das forças da natureza. Naquela época, sobreviver ao rigor do inverno era um grande desafio, pois muitas vezes os alimentos eram escassos, as vestimentas ineficientes e os abrigos rudimentares. Por isso, a chegada da primavera, era tão celebrada, como uma vida após a morte.

Mas como é vivenciar a Páscoa através dos olhos das crianças? Nas escolas orientadas pela Pedagogia Waldorf, as crianças entram em contato com o sentido espiritual da Páscoa através de imagens. Em contos que abordam a vitória da vida sobre a morte, através também da imagem arquetípica da metamorfose da borboleta que, quando lagarta, fecha-se num escuro casulo, deixando a luz e o calor transformarem sua existência em cor e leveza, representando a morte do corpo, a transformação e o renascer. E, claro, o coelho e os ovos também possuem um significado especial nas comemorações pascoais. O ovo representa uma vida interior, ainda em estado germinal, que se desenvolve, rompe uma casca dura e em seguida desabrocha em sua plenitude, assim como Cristo ressuscitado saiu de sua tumba. O coelho, por sua vez, representa um animal puro, digno de carregar e trazer os ovos da Páscoa. Além disso, é um animal muito fértil, que se reproduz com facilidade.

Seja qual for a imagem, a criança irá vivenciar a beleza desta época se os adultos ao seu redor vivenciarem internamente o verdadeiro sentido da Páscoa. Apenas se nos permitirmos deixar morrer em nós o que não queremos mais, o que já não nos serve, e também possibilitarmos que o novo em nós possa florescer.

Micael

Uma semana após o equinócio da primavera, no dia 29 de setembro, comemoramos o dia de São Micael. O nome Micael deriva de Miguel, de origem hebraica (Mikha’El), e significa “que é como Deus”.

O Arcanjo Micael é o grande enviado por Cristo para acompanhar e trazer força ao desenvolvimento correto da humanidade. De acordo com a Antroposofia, estamos vivendo a Época cultural de Micael, que é a Época da Consciência, desde 1879. Cada época dura em torno de 300 anos e tem um Arcanjo que a dirige.

Micael simboliza coragem e resistência. Ele traz em sua mão uma espada de ferro, o mesmo elemento que corre em nosso sangue e que nos permite atuar corajosamente. Sua força férrea nos inspira a enfrentar os dragões que estão dentro e fora de nós.

Assim como a primavera traz uma força que brota de dentro, que faz romper uma semente interna em busca do Sol, da Luz, para crescer e dar frutos, devemos permitir que nossa força interna, ou seja, nossa consciência, floresça em nossa vida para enfrentarmos e dominarmos os dragões que nos envolvem: medo, raiva, desonestidade, vaidade, egoísmo, ganância, orgulho, corrupção, materialismo, entre outros. Os dragões representam tudo que nos prende ao mundo material, levando a um esquecimento da nossa cosmoessênciaque está em nosso “Eu interior”.

Micael não mata o dragão, porém o enfrenta com controle e equilíbrio da inteligência e do coração, pois só assim é possível dominar as forças do mal. Para isso, é necessário coragem. É o impulso da coragem para crescermos e amadurecermos que Micael quer de nós.

Segundo Steiner, “o contrário do medo não é a coragem, mas o amor. Cor – agem é coração agindo em nome do amor”. A coragem para enfrentar a vida ultrapassa nossos medos e limites, nos traz consciência do bem e do mal, e nos leva para o caminho da liberdade.

Nas escolas orientadas pela Pedagogia Waldorf, vivenciamos a época de Micael através das imagens da sua força e coragem para enfrentar e dominar os dragões. Elas aparecem em histórias, rodas rítmicas, símbolos como a balança, a espada, o escudo, permeando a sala de aula. No Ensino Fundamental, as crianças podem passar por uma Prova da Coragem, uma sequência de desafios pedagógicos propostos pel@s professor@s para elas superarem o medo.

São João

No dia 24 de junho, três dias após o solstício de inverno, comemoramos o nascimento de São João Batista, precursor e anunciador de Cristo. João Batista que realizou o batismo de Jesus no Rio Jordão, propiciando a incorporação da entidade do Cristo no corpo de Jesus de Nazaré, no momento em que a humanidade vivia um grande inverno espiritual. João teve a missão de preparar o coração dos homens para o advento do Cristo. Ele dizia aos seus discípulos que uma Era chegava ao fim para outra começar, e que ele precisava diminuir para o Cristo crescer. Por isso, o símbolo máximo desta festividade é a fogueira, em que a lenha se consome para que a chama cresça.

   

Nesta época do ano, enquanto os dias são curtos e ensolarados, as noites são longas, frias e estreladas. A natureza guarda a sua força no íntimo da Terra, assim como somos impelidos a nos recolher. O espírito joanino nos leva a nos concentrarmos em nosso interior e deixarmos queimar em nossa fogueira tudo aquilo que representa o passado, que não nos serve mais, para que a Luz Crística de cada um cresça e em sua plenitude nos inunde de amor a nós mesmos e ao próximo.

Em Escolas Waldorf, comemoramos essa época com muita alegria, beleza e simbolismos. Na educação infantil, trazemos as músicas nas rodas e as comidas típicas no lanche, logo após vivenciarmos uma Época da Lanterna, em que  contamos uma história de uma menina que busca acender a luz de sua lanterna (luz interior), que o vento apagou. Ela tem recebe ajuda das estrelas (cosmos) em sua jornada solitária (caminho interior) e somente o Sol (luz divina) pode acender sua lanterna. Assim, em um dia especial, um teatro dessa história é apresentado e as crianças com suas famílias e professor@s caminham ao anoitecer com lindas lanternas que confeccionaram nessa época, simbolizando a luz interior de cada um iluminando o mundo, culminando em uma fogueira, onde em roda cantamos e celebramos.

No Ensino Fundamental, uma linda e grandiosa Festa de São João é vivida pelas crianças, que se vestem à caráter, brincam, cantam e dançam ao redor de uma fogueira e comem deliciosas comidas típicas feitas por todas as famílias da escola.

Advento

Advento é uma palavra de origem latina (adventum) que significa “vinda, ou chegada”, refere-se ao tempo vindouro, ao que está por vir. Vivenciamos o Advento no quarto domingo antes da comemoração do nascimento do Menino Jesus, o Natal, próximo ao solstício de verão.

Nossas vidas barulhentas e apressadas afastam de nossa alma os sentimentos puros e verdadeiros que nos religam à nossa origem cósmica, cada vez mais esquecida. Uma forma de nos conectarmos às forças celestiais é vivenciarmos essa época natalina conscientemente, em silêncio, com compenetração e reflexão.

Em Escolas Waldorf, vivenciamos o Advento com as crianças através do Presépio, em que os elementos vão chegando aos poucos, domingo a domingo, além de trazermos contos e músicas natalinos. É comum também apresentarmos o Auto de Natal, representados pel@s própri@s alunos. 

Fazemos também o Jardim do Advento com as crianças do Jardim, um momento muito bonito, simples e simbólico, que traz uma vivência para as crianças sobre o verdadeiro espírito natalino, em que devemos ir ao encontro de nossa luz interior.

O que importa é relembrarmos qual a beleza e importância dessa época, livres do consumismo e da superficialidade.

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